terça-feira, 15 de abril de 2014

Prédios abandonados em Lisboa atraem compradores

Cerca de 12.000 prédios estão em más condições ou em ruínas em Lisboa, cerca de 20 por cento do total, estima o Conselho da Cidade.

Região do Bairro Alto, em Lisboa

Ao longo da Avenida da Liberdade, em Lisboa, meia dúzia de prédios vazios estragam um bulevar com fileiras de jardins, calçadas com azulejos ornamentados e lojas de luxo, na que é considerada o Champs-Élysées da capital portuguesa.

Cerca de 12.000 prédios estão em más condições ou em ruínas em Lisboa, cerca de 20 por cento do total, estima o Conselho da Cidade. A cidade é uma das últimas capitais na Europa Ocidental com tantas estruturas vazias, disse Fernando Vasco Costa, diretor de consultoria na Jones Lang LaSalle Inc. em Lisboa.
“É no centro da cidade onde está a maior porcentagem de prédios vazios que precisam ser reabilitados”, disse Manuel Salgado, o vereador da cidade responsável pelo planejamento e a renovação urbana. Renovar os prédios e as áreas circundantes poderia custar até 8 bilhões de euros (US$ 11 bilhões), disse ele.
Agora, enquanto o país emerge de três anos de recessão, os funcionários da cidade estão fazendo algo para arrumar o centro de Lisboa. O programa “Reabilita Primeiro Paga Depois” da cidade levou à venda de mais de 50 prédios desde o começo de 2013 e isenções fiscais estão sendo oferecidas para melhorar as ofertas.
Os donos de muitos dos prédios vazios não podem custear as renovações após perderem os inquilinos quando Portugal começou a retirar os controles de aluguéis em 2012, conforme Luís Lima, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal. “Outras cidades europeias não têm esses prédios vazios que foram abandonados há tanto tempo pelas leis de controle de aluguéis”.
Exigência do resgate
Pôr fim aos controles de aluguéis foi uma condição de um pacote de resgate de 78 bilhões de euros da União Europeia e do FMI em 2011. Portugal saiu da sua recessão mais longa em pelo menos 25 anos no segundo trimestre do ano passado, e o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho está tentando recuperar o acesso completo aos mercados de dívida à medida que o final do resgate se aproxima no mês que vem.
Os limites aos aluguéis de propriedades comerciais e residenciais, em vigência há um século, faziam com que alguns inquilinos pagassem menos de 50 euros por mês, deixando que os centros das cidades de Portugal se desmoronassem, pois a renda dos alugueis não conseguia acompanhar os custos de manutenção. Os inquilinos começaram a fugir quando as regras começaram a ser retiradas.
Entre os prédios vazios de Lisboa há dúzias de palácios e antigas casas de famílias aristocráticas cujos herdeiros não podem concordar em relação ao que fazer com elas. O fundo Eastbanc Inc. do desenvolvedor Anthony Lanier investiu 50 milhões de euros para comprar 17 prédios, incluindo quatro palácios do século 19 no bairro Príncipe Real de Lisboa. O fundo investirá mais 50 milhões de euros para converter as propriedades em um hotel, apartamentos de luxo, lojas e cafés.
Os gastos em propriedades comerciais em Portugal triplicaram para 322 milhões de euros em 2013 frente a um ano atrás, segundo dados compilados pela Cushman Wakefield. As vendas de casas aumentaram 72 por cento no ano passado comparadas com 2012.
Investir em Portugal ainda é arriscado e alguns dizem que pôr fim aos controles de alugueis somente põe a economia em perigo. Romão Lavadinho, presidente da Associação dos Inquilinos Lisbonenses, disse que eliminar os limites apresenta o risco de prejudicar as pequenas empresas, piorando a pobreza e deixando mais pessoas sem teto.
Interesse de bilionários
Isso não está reduzindo o interesse pelas propriedades de Lisboa. A matriz do bilionário alemão-americano Nicolas Berggruen disse no mês passado que planejava gastar até 300 milhões de euros em edifícios dilapidados em Lisboa.
O Deka Group, o maior administrador de fundos mútuos imobiliários da Alemanha, já possui sete propriedades na capital e nas áreas circundantes cotadas em 164 milhões de euros. A empresa comprou um prédio no ano passado que é alugado pelo serviço postal CTT-Correios de Portugal.
“Esses prédios abandonados são algo especial na Europa Ocidental e dão à Lisboa uma chance fantástica de renovar a cidade”, disse Stefan Scholl, diretor de aquisições e vendas da Deka na Europa.
Fonte: Exame

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